Empréstimo de veículos foi o primeiro a sentir os efeitos das medidas do BC. Busca do consumidor por crédito também recuou
Alguns consumidores já estão buscando menos crédito e determinados tipos de financiamento, como o automotivo, começam a ser oferecidos com prazos menores. Essas são, segundo especialistas, as primeiras reações do mercado ao pacote anunciado em dezembro, pelo Banco Central, para conter a expansão do ritmo de empréstimos no Brasil.
Segundo dados do Banco Central, divulgados nesta quinta-feira, as operações de crédito do sistema financeiro – que consideram recursos para pessoas físicas e jurídicas - esfriaram em janeiro, totalizando R$ 1,7 trilhão, um crescimento de 0,5%. Em dezembro, a alta havia sido de 1,6%. O maior impacto das medidas foi observado no financiamento para aquisição de veículos, que recuaram 33,5% no mês. Para crédito pessoal, o recuo foi de 10,2%.
Quando anunciou o pacote, em 3 de dezembro do ano passado, o então presidente do BC, Henrique Meirelles, anunciou a exigência de mais garantias das instituições financeiras que fazem empréstimos às pessoas físicas por prazos acima de 24 meses.
Demanda cai
Na Serasa, a demanda das pessoas por crédito em janeiro caiu 6,7% sobre dezembro, a maior baixa dos últimos três anos. “Normalmente, janeiro mostra retração sobre dezembro. Mas a queda do mês passado ficou acima da média dos últimos três anos, que foi de 5%”, conta Luiz Rabi, gerente de indicadores de mercado da companhia
Entre os tipos de empréstimos mais afetados, os mais caros reagem primeiro. Na Zipcode, empresa de tecnologia que também mapeia dívidas, a gerente de contas estratégicas Juliana Cantanhede diz que os prazos de financiamentos de veículos já estão encurtando, de seis anos para dois anos. Já as modalidades para produtos mais baratos, diz Juliana, ainda estão se segurando nas tradicionais promoções que sempre ocorrem antes do Carnaval.
Só depois do Carnaval
Apesar de já verificarem alguns efeitos do pacote, os especialistas lembram que janeiro e fevereiro são meses atípicos, pois a economia brasileira só mostra reaquecimento depois do Carnaval. “Em dezembro, mês do anúncio, não foi sentido nenhum efeito, pois o comércio já estava estocado”, diz Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). “Em janeiro começamos a sentir algumas mudanças, mas os verdadeiros efeitos só serão sentidos a partir de março, quando a economia retoma seu curso normal.”
Ainda crescendo, mas menos
Quem lida com crédito e inadimplência aprovou as medidas tomadas pelo Banco Central e acredita que a tendência agora é de um crescimento mais lento da concessão de empréstimos. “De janeiro a dezembro de 2010, a procura dos consumidores por crédito cresceu 16,4%”, diz Luiz Rabi. “Na comparação entre janeiro do ano passado e de 2011, a alta foi de 12,9%”, continua.
“A atuação do governo faz sentido. Até demorou, a corda do pacote anticrise ficou esticada”, diz o gerente da Serasa. Ele admite que a taxa de inadimplência do brasileiro ainda está baixa, mas a prudência neste momento é a melhor atitude. “O crescimento forte do crédito no ano passado trouxe para o sistema as classe C e D, que não estão acostumadas a tomar crédito. Com isso, o perfil de risco cresce.”
De acordo com o último indicador da Serasa sobre atraso em pagamentos, a inadimplência dos brasileiros em janeiro, em relação ao mesmo mês do ano passado, registrou aumento de 24,8%, o maior crescimento anual desde julho de 2002. Apesar da alta, a relação entre janeiro e dezembro apresentou queda de 3,3%. O recuo mensal e o cenário econômico revelariam que a inadimplência está sob controle.
Para os economistas da Serasa Experian, o crescimento da inadimplência na comparação entre os meses de janeiro é resultado da expansão do endividamento dos consumidores, que aumentou acentuadamente durante todo o ano passado. Por outro lado, o recuo registrado entre janeiro e dezembro mostra que a inadimplência do consumidor não conta com a mesma aceleração dos meses anteriores (foram oito altas mensais seguidas entre maio e dezembro de 2010).
Juliana, da Zipcode, lembra que a medida do governo foi positiva porque não vai provocar queda na concessão do crédito, mas sim um crescimento mais lento, mais sustentável. “Vivemos num país com pessoas que não estão habituadas a se endividar”, conta. “Chegamos ao absurdo de ver ofertas de prazo de pagamento de dois anos para presentes de Dia das Mães.”
O outro lado da moeda
Apesar de serem tomadas para evitar riscos e diminuir a inadimplência, as empresas de recuperação de dívidas alertam que o encurtamento nos prazos de pagamento pode trazer o efeito contrário para alguns consumidores. Ana Paula Pisaneschi, gerente de planejamento da empresa de recuperação de crédito Zanc Assessoria, diz que as cobranças feitas pela companhia em janeiro e fevereiro são rescaldo de dívidas antigas, que não foram influenciadas pelas novas medidas do BC. “Mas com certeza vamos sentir os efeitos em breve. Haverá uma redução no ritmo de recuperação, pois prazos mais curtos para pagamento tendem a elevar a inadimplência.”
Na visão de Ana Paula, o varejo brasileiro deve sair das taxas atuais de não pagamento, em torno de 3% do total, para cerca de 5% a 6%, nível visto em 2008. “Encurtamento de prestação dificulta o pagamento de dívida.”
Fonte:Ig
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